As águas te viram, ó Deus, as águas te viram, e tremeram; os abismos também se abalaram (Salmos 77. 16).As águas te viram, ó Deus! Alguns dos milagres nos quais Deus exibira o poder de seu braço são aqui brevemente reportados. Quando se diz que as águas viram a Deus, a linguagem é figurada, significando que foram removidas, por assim dizer, por um instinto e impulso secretos em obediência à ordem divina na abertura de uma passagem para o povo eleito. Nem o mar nem o Jordão teria alterado sua natureza, ao se abrirem, dando-lhes espontaneamente uma passagem, não tivessem ambos sentido sobre eles o poder de Deus. Não significa que recuassem em função de algum juízo e raciocínio que porventura possuíssem, mas que, ao recuarem como fizeram, Deus mostrava que mesmo os elementos inanimados estão prontos a prestar-lhe obediência. Há aqui um contraste indireto com a intenção de repreender a estupidez dos homens caso não reconheçam na redenção dos israelitas do Egito a presença da mão de Deus, a qual foi vista até mesmo pelas águas. O que se acrescenta acerca dos abismos sugere que não só a superfície das águas foram agitadas na presença de Deus, mas que seu poder penetrou até mesmo os abismos mais profundos
“As águas do Mar Vermelho” , diz Home, “são aqui lindamente representadas como que dotadas de sensibilidade; elas vêem, sentem e são confundidas, mesmo os abismos mais profundos, na presença e poder de seu grande Criador, quando lhes ordenou que abrissem um caminho e formassem um muro de cada lado, até que seu povo passasse. Isto, de fato, é verdadeira poesia; e nessa atribuição de vida, espírito, emoção, ação e sofrimento a objetos inanimados, não existe poeta que possa rivalizar-se com os da nação hebraica.” - Mant.
João Calvino, O livro dos Salmos, volume 3.
19/12/16
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