terça-feira, 11 de outubro de 2016

Salmos 77:11-12

Recordarei os feitos do Senhor; sim, me lembrarei das tuas maravilhas da antiguidade 12. Meditarei também em todas as tuas obras, e ponderarei os teus feitos poderosos. (Salmos 77:11)
Eu me lembrarei das obras de Deus. O profeta agora, inspirado com nova coragem, vigorosamente resiste ás tentações, as quais por tanto tempo haviam prevalecido contra ele com o intuito de esmagar sua fé. Esta recordação das obras de Deus difere da recordação da qual ele previamente falou. Então contemplou à distância os benefícios e achou a contemplação deles insuficiente para suavizar ou a sua tristeza. Aqui ele toma posse deles, por assim dizer, como testemunhos que garantiam a eterna graça de Deus. Para expressar a mais profunda seriedade, ele repete a mesma sentença, com uma afirmação na forma de interjeição; pois a palavra, ki, é aqui usada simplesmente para confirmar ou realçar a afirmação. Tendo, pois, por assim dizer, obtido a vitória, ele triunfa na recordação das obras de Deus, estando firmemente persuadido de que Deus continuaria o mesmo como se mostrara desde a antiguidade. Na segunda sentença, ele enaltece veementemente o poder que Deus exibira na preservação de seus servos: Lembrar-me-ei de tuas obras maravilhosas da antiguidade. Ele emprega o singular, teu decreto ou tua obra maravilhosa; porém não hesitei em corrigir a obscuridade mudando o número. Encontrá-lo-emos logo depois empregando o singular para denotar muitos milagres. O que ele quer dizer, em suma, é que o maravilhoso poder de Deus que sempre publicara pela preservação e salvação de seus servos, contanto que meditemos devidamente sobre ele, é suficiente para capacitar-nos a vencer todas as angústias.
À luz deste fato, aprendamos que, embora às vezes a lembrança das obras de Deus nos traga menos conforto do que havíamos desejado, e nossas circunstâncias requeiram, devemos, não obstante, esforçar-nos para que a exaustão produzida pela tristeza não descoroçoe nossa coragem. Isso é merecedor de nossa mais cuidadosa atenção. Em tempos de tristeza, nutrimos sempre o desejo de achar um remédio que mitigue sua amargura; porém a única maneira pela qual podemos fazer isso é lançar nossas preocupações sobre Deus. Entretanto, amiúde sucede que, quanto mais perto ele esteja de nós, mais, no aspecto externo, ele agrava nossas dores. Portanto, muitos, quando não derivam nenhuma vantagem deste curso, imaginam que não podem fazer melhor que esquecê-lo. E assim sentem aversão por sua Palavra, porque quando a ouvem sua angústia é antes agravada em vez de mitigada, e, o que é pior, desejam que Deus, que assim agrava e inflama sua tristeza, se mantenha à distância. Outros, sepultando a lembrança dele, se devotam totalmente às atividades mundanas. Estão num extremo muito oposto ao do profeta. Embora ele não experimentasse imediatamente o benefício que teria desejado, todavia ainda continuou a ter Deus diante de sua vista, sabiamente apoiando sua fé nesta meditação: como Deus não muda seu amor nem sua natureza, ele não pode fazer outra coisa senão mostrar-se por fim misericordioso para com seus servos. Que nós também aprendamos a abrir nossos olhos para vislumbrar as obras de Deus; cuja excelência é de pouca importância em nossa estima, em virtude da opacidade de nossos olhos e de nossa inadequada percepção delas; as quais, porém, se examinadas atentamente, nos encantarão com admiração. O salmista reitera no versículo 12 que ele meditaria continuamente sobre essas obras, até que, no tempo oportuno, recebesse a plena vantagem que esta meditação se destina a oferecer. A razão por que tantos exemplos da graça de Deus em nada contribuem para nosso proveito, e fracassam em edificar nossa fé, é que tão logo temos começado a fazer delas os temas de nossa ponderação, nossa inconstância nos afasta para outras coisas, e assim, em seu exato começo, nossas mentes logo perdem a imagem delas.

João Calvino, O livro dos Salmos, volume 3
05-10-16

Salmos 77: 10

E eu digo: Isto é minha enfermidade; acaso se mudou a destra do Altíssimo? (Salmos: 77. 10)
E eu disse: Minha morte, os anos da destra de Deus. Esta passagem tem sido explicada de várias maneiras. Alguns, derivando a palavra challothi de chalah, que significa matar, vêem o profeta como a dizer que, sendo esmagado por um grande acúmulo de calamidades, a única conclusão a que pôde chegar era que Deus o designara à completa destruição; e que sua linguagem é uma confissão de haver ele caído em desespero. Outros traduzem-na por estar doente, estar enfermo ou debilitado, o que é muito mais próprio ao escopo da passagem (veja nota 1). Diferem, porém, com respeito ao significado. Segundo alguns intérpretes, o profeta se acusa e se reprova por sua enfermidade mental e por não conseguir mais virilmente resistir à tentação (veja nota 2). É possível admitir esta explicação; pois o povo de Deus ordinariamente reunia coragem depois de passar um tempo hesitante sob o impulso da tentação. Entretanto, prefiro uma interpretação diferente, a saber: que esta era uma doença meramente temporária, e que por isso ele a compara indiretamente à morte; ainda quando se diz no Salmo 118.18: “O Senhor me castigou gravemente, porém não me entregou à morte.” Também: “Não morrerei, porém viverei.” Ele, pois, não tenho dúvida, se sente aliviado por nutrir a confiante persuasão de que, embora atualmente estivesse deprimido, era só uma questão de tempo, e que, portanto, se dispõe a pacientemente suportar essa doença ou debilidade, visto que ela não era para morte. Os comentaristas tampouco estão concordes quanto à exposição da segunda sentença. Os que conectam este versículo com os versículos precedentes, acreditam que o profeta fora a princípio reduzido a um estado tal de melancolia, que olhava para si mesmo como alguém completamente destruído; e que depois ele ergueu sua cabeça resolutamente, à semelhança daqueles que pensam achar-se lançados nas profundezas de um naufrágio, e que, repentinamente, se erguem acima das águas. Além disso, creem que isso deve ser entendido como uma palavra de encorajamento dirigida por alguém ao profeta, desejando que ele rememore os anos nos quais teve a experiência de que Deus era misericordioso para consigo. Será, porém, mais apropriado entendê-lo assim: Não tens razão de pensar que ora estás condenado à morte, visto não estares laborando sob uma doença incurável, e a mão de Deus está habituada a atingir todos aqueles a quem ela quer golpear. Não rejeito a opinião dos que traduzem shenoth, por mudanças (veja nota 3); pois quando o verbo hebraico, shanah, significa mudar, ou fazer uma coisa repetidas vezes, os hebreus tiraram dele a palavra shenoth, a qual empregam para denotar anos, de seu caráter giratório, de seu movimento em espiral, por assim dizer, na mesma órbita. Mas seja qual for a maneira em que a entendamos, o conforto de que tenho falado permanecerá firme, ou, seja, o profeta, assegurando-se de uma mudança favorável em sua condição, não olha para si como um condenado à morte. Outros dão uma interpretação um pouco diferente, olhando para ela de outro ângulo (veja nota 4), como se o profeta dissesse: Por que não suportas pacientemente a severidade de Deus desta vez, quando até aqui ele te tem acalentado com sua beneficência? Ainda como disse Jó [2.10]: “Recebemos o bem da mão de Deus, e não receberemos também o mal?” É mais provável, porém, que o profeta dirija sua visão para o futuro e tenha em mente que este o fez esperar os anos ou os acontecimentos da mão do Altíssimo, até que ele oferecesse clara e indiscutível evidência da volta de seu favor para com ele.
Notas:
1- Walford traduz: “Então eu disse: Minha doença é esta.:” Observa ainda: “Essa é a tradução exata do texto. Alguma doença penosa lhe sobreviera, a qual foi agravada pela depressão de seu espírito, o que o privou do vigor e energia mentais e envolveu todos os objetos de cores mais escuras ... ‘Eu disse: Esta é minha doença.’ Minha mente está oprimida pelos sentimentos mórbidos de minha estrutura física, e por isso as mudanças pelas quais a mão de Deus me afetou são vistas por mim em cores mais escuras, e estou pronto a renunciar a própria esperança de que ainda verei sua bondade como fazia comigo outrora."
2 - Segundo este ponto de vista, ele se refere ao que dissera nos versículos 7 a 9, nos quais pareceu chegar à conclusão de que jamais haveria um fim para suas aflições atuais, como se o decreto estivesse em andamento e Deus pronunciasse uma sentença final e irreversível. Aqui, porém, ele se refreia e se corrige por haver dado vazão a tal linguagem, e recorda de seus pensamentos de respeito a Deus de forma mais justa e sentimentos mais estimulantes. Reconhece seu pecado em questionar ou ceder ao sentimento de suspeita em referência ao amor divino e à veracidade das promessas divinas; e confessa que isso fluiu da corrupção de sua natureza e da fraqueza de sua fé; que ele havia falado temerária e apressadamente; e que se envergonhava e sentia seu rosto em confusão, por isso agora desistira e não mais iria avante.
3- Walford traduz o versículo assim: “Então eu disse: Minha doença é esta: A mudança da destra do Deus Altíssimo.” Ele observa: “Não há autoridade para a versão: ‘Recordarei os anos’; sua intenção é: o poder de Deus tem mudado e alterado minha condição; de um estado de saúde e paz, ele me trouxe doença e dores e tristezas. Disto, diz ele, me lembrarei para inspirar-me alguma esperança de que o poder que o tinha humilhado agora o exalte.”

 João Calvino, O livro dos Salmos, volume 3
11-10-16

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Salmos 77: 9

"Esqueceu-se Deus de ser compassivo? Ou na sua ira encerrou ele as suas ternas misericórdias?" (Salmos 77. 9)
Porventura esqueceu Deus de ser misericordioso? O profeta ainda continua debatendo em seu íntimo o mesmo tema. Seu objetivo, contudo, não é subverter sua fé, mas, antes, soerguê-la. Ele não formula esta pergunta como se o ponto a que se refere fosse uma questão duvidosa. É como se ele dissesse: Porventura Deus esqueceu de si mesmo? ou teria ele mudado sua natureza Porque ele não pode ser Deus a menos que seja misericordioso. De fato admito que ele não permanece inabalável como se possuísse um coração de aço. Entretanto, quanto mais violentamente era ele assaltado, mais firmemente se inclinava para o fato incontestável de que a bondade de Deus está tão inseparavelmente conectada a sua essência, que se torna sumariamente impossível que ele não seja misericordioso. Portanto, sempre que as dúvidas assaltem nossas mentes, assenhoreando-se delas com preocupações e oprimindo-as com angústias, aprendamos sempre a diligenciar-nos por obter uma resposta satisfatória a esta pergunta: Deus mudou sua natureza ao ponto de não mais ser misericordioso?

A última sentença: Ele encerrou ou restringiu sua misericórdia em sua ira? tem o mesmo teor. Era uma observação muito comum e notável entre os patriarcas que Deus é longânimo, tardio em irar-se, pronto a perdoar e fácil de ser achado. Foi deles que Habacuque extraiu a afirmação que faz em seu cântico [3.2]: “ Mesmo em sua ira ele se lembrará de sua misericórdia.” O profeta, pois, aqui chega à conclusão de que a disciplina que ele experimentou não impedia que Deus novamente se reconciliasse com ele e volvesse a sua costumeira maneira de outorgar-lhe bênçãos, visto que sua ira para com seu próprio povo dura apenas um momento. Sim, embora Deus manifeste os emblemas de sua ira, todavia não oculta por muito tempo seu terno amor para com aqueles a quem disciplina. Sua ira, é verdade, permanece continuamente sobre os réprobos; porém o profeta, considerando-se como um do número dos filhos de Deus, e falando de outros crentes genuínos, com razão fala da impossibilidade de o desprazer temporário de Deus interromper o curso de sua bondade e mercê.

João Calvino, O livro dos Salmos, volume 3
05-10-16

Salmos 77:7-8

Rejeitará o Senhor para sempre e não tornará a ser favorável? Cessou para sempre a sua benignidade? Acabou-se a sua promessa para todas as gerações? (Salmos 77:7-8)
Rejeitará o Senhor para sempre? As declarações aqui feitas indubitavelmente formam parte das inquirições nas quais o salmista envolvera sua mente. Ele notifica que foi quase esmagado por uma longa sucessão de calamidades; pois ele só se viu impelido a usar essa linguagem quando teve que suportar aflição por um longo período de tempo, mal se aventurando a nutrir a esperança de que Deus futuramente o favoreceria. É possível que argumentasse consigo mesmo se Deus continuaria a ser gracioso; pois quando ele nos envolve em seu favor, faz isso com base no princípio de que ele continuará a no-lo estender até o fim. O salmista não se queixa propriamente de Deus nem encontra nele falha alguma, mas, antes, arrazoa consigo mesmo e conclui, à luz da natureza de Deus, que é impossível que ele não dê seguimento a seu gracioso favor em prol de seu povo, a quem uma vez se revelou como Pai. Visto que ele tem identificado todas as bênçãos que os fiéis recebem da divina mão com o mero beneplácito de Deus, como sua fonte, assim um pouco depois adiciona a bondade divina, como a dizer: Como posso crer ser possível que Deus interrompa o curso de seu paterno favor, quando se leva em conta que ele não pode privar-se de sua própria natureza? Vemos, pois, como, por meio de um argumento extraído da bondade de Deus, ele repele os assaltos da tentação. Quando formula a pergunta: sua palavra ou oráculo falhou? ele notifica que estava destituído de toda e qualquer consolação, visto não ter experimentado nenhuma promessa que apoiasse e fortalecesse sua fé. Somos deveras lançados num redemoinho de desespero quando Deus afasta de nós suas promessas nas quais nossa esperança e salvação estão incluídas. Se surge a objeção de que, como tais, era impossível, sem a palavra de Deus, ter a lei em suas mãos, respondo que, por conta da imperfeição da primeira dispensação, quando Cristo não havia ainda se manifestado, as promessas especiais eram então necessárias. Conseqüentemente, no Salmo 74.9 encontramos os fiéis se queixando de que não viam mais seus sinais costumeiros, e que não mais tinham em seu meio um profeta que tivesse conhecimento do tempo. Se Davi foi o autor deste Salmo, sabemos que em questões de dúvida e perplexidade era comum que ele solicitasse o conselho de Deus, e que Deus estava acostumado a conceder-lhe respostas. Se se visse privado dessa fonte de alívio no meio de suas calamidades, ele tinha razão de deplorar por não haver encontrado nenhum oráculo ou palavra para sustentar e fortalecer sua fé. Mas se o Salmo foi composto por algum outro profeta inspirado, esta queixa se adequará ao período que se interpõe entre a volta dos judeus do cativeiro babilônico e a vinda de Cristo; porque, durante esse tempo, o curso da profecia de certo modo estava interrompido e não havia ninguém investido de algum dom peculiar dado pelo Espírito Santo para alçar os corações daqueles que estavam prostrados ou apoiá-los e guardá-los de caírem. Além disso, às vezes ocorre que, embora a palavra de Deus nos seja oferecida, todavia ela não entra em nossas mentes, em decorrência de estarmos envolvidos em estresse tão profundo ao ponto de impedir-nos de receber ou admitir um mínimo grau de conforto. Eu, porém, endosso o primeiro sentido, ou, seja, que a Igreja estava agora sem aqueles anúncios especiais de profecia com que ela fora anteriormente favorecida, e que como ainda dependia da mera vista das sombras daquela economia, ela estava em constante necessidade de novos apoios. À luz deste fato podemos deduzir uma proveitosa lição, a saber: que não devemos viver indevidamente inquietos, caso Deus, em algum tempo, subtraia de nós sua palavra. Deve-se ter em mente que ele prova seu próprio povo através de métodos maravilhosos, para que cheguem à conclusão de que toda a Escritura chegou a seu próprio fim, e que, embora estejam desejosos de ouvir Deus falando, todavia não conseguem aplicar suas palavras a seu próprio caso particular. Esta, como eu já disse, é uma coisa angustiante e dolorosa; mas que não deve impedir que nos engajemos no exercício da oração.

João Calvino, O livro dos Salmos, volume 3
05-10-16

Salmos 77:6

"De noite lembro-me do meu cântico; consulto com o meu coração, e examino o meu espírito" (Salmos: 77. 6).

De noite recordarei o meu cântico. Pela expressão, meu cântico , ele denota o exercício de ação de graças no qual se engajara durante o tempo de sua prosperidade. Não há remédio mais próprio para curar nossas dores, como acabo de observar, do que este; Satanás, porém, com frequência espertamente insinua em nossa mente os benefícios de Deus, para que cada senso da ausência deles faça em nossas mentes uma profunda ferida. Portanto, é muitíssimo provável que o profeta estivesse espicaçado por dores cruciantes ao comparar a alegria experimentada por ele em tempos passados com as calamidades que presentemente estava sofrendo. Ele menciona expressamente a noite, porque, quando então estamos sozinhos e privados da sociedade e presença de seres humanos, em nossa mente engendramos mais preocupações e pensamentos do que os experimentamos durante o dia. O que se acrescenta imediatamente a seguir, com respeito ao comungar com seu próprio coração , tem o mesmo objetivo. A solidão exerce a influência de levar os homens a retirar-se para os recessos de seu próprio universo mental, com o intuito de examinar se plenamente e falar a si mesmos livre e sinceramente, quando nenhuma criatura está por perto para, com sua presença, impor restrição.

A última sentença do versículo, e meu espírito com diligência examinará, admite uma dupla explicação. A palavra chaphas, para examinar com diligência, sendo do gênero masculino, e a palavra ruach, para espírito, às vezes sendo feminina, alguns comentaristas supõem que o nome de Deus deve estar implícito, e explicam a frase como se o salmista houvera dito: Não há nada, ó Senhor, tão oculto em meu coração que não tenhas sondado. E de Deus se diz, com a mais elevada propriedade, que examina o espírito do homem, a quem desperta de sua indolência ou torpor, e a quem examina por meio de agudas aflições. Então todos os lugares ocultos e recuados, por mais obscuros que sejam, são explorados, e as aflições, antes desconhecidas, são trazidas a lume. Entretanto, visto que o gênero do substantivo, no idioma hebraico, é ambíguo, outros mais plausivelmente traduzem: meu espírito tem examinado diligentemente. Sendo este o sentido mais geralmente aceito, e sendo, ao mesmo tempo, o mais natural, eu o adotei. Nesse debate, do qual o escritor inspirado faz menção, ele perscrutou as causas em virtude das quais ele era tão severamente afligido, e também das quais suas calamidades finalmente emanavam. Sem dúvida é altamente proveitoso meditar nestes temas, e o desígnio de Deus consiste em instigar-nos a fazer isso quando algum adversário nos pressiona. Não há nada mais perverso do que a estupidez dos que se tornam endurecidos sob os açoites de Deus. Simplesmente devemos manter-nos dentro dos devidos limites a fim de não sermos tragados por muitas aflições, e para que as profundezas insondáveis dos juízos divinos não nos submerjam ante nossa tentativa de examiná-los detidamente. O que o profeta tinha em mente é que quando ele buscou conforto em todas as direções, não pôde encontrar nenhum que amenizasse a amargura de suas tristezas.

“O verbo chaphas , significa uma investigação como aquela para a qual o homem, para fazê-la, se vê obrigado a despir-se. Ou, levantar as cobertas a fim de examinar dobra por dobra. Ou, em nossa fraseologia, não deixar pedra sem revirar. A Vulgata traduz assim: et scopebam spiritum meum. Como scopebam não é um termo latino puro, poderia provavelmente ter sido tomado do grego, scopeo, ‘olhar em volta, considerar atentamente’. Entretanto, ele não é usado por nenhum autor, exceto por Jerônimo, e por ele somente aqui e em Isaías 14.23: ‘e varrê-la-ei com vassoura de perdição’; Daí vermos que ele formou um verbo do substantivo scopa, uma escova ou vassoura varredora." Dr. Adam Clarke.

João Calvino, O livro dos Salmos, volume 3.
03/10/16

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Salmos: 77: 5

"Considero os dias da antiguidade, os anos dos tempos passados". (Salmos: 77. 5)

Tenho rememorado os dias de outrora. Não há dúvida de que ele lutava por aliviar sua tristeza rememorando sua alegria do passado; porém nos informa que o alívio não era obtido tão facilmente, nem tão repentinamente. Pelas sentenças, dias de outrora e os anos de tempos passados, parecem não só referir-se ao doloroso curso de sua própria vida, mas também abrangem muitas épocas. O povo de Deus, em suas aflições, deve, indubitavelmente, pôr diante de seus olhos, e lembrar sua memória, não só as bênçãos divinas que têm individualmente experimentado, mas também todas as bênçãos que Deus, em cada época, tem outorgado a sua Igreja. Entretanto, pode-se facilmente deduzir do texto que, quando o profeta lembra em sua própria mente as misericórdias que Deus lhe outorgara em tempos passados, ele começou com sua própria experiência.

João Calvino, O livro dos Salmos, volume 3.
03/10/16

Os doze espias

"Números, cap. 13 Versos 25 a 33 - Ao fim de quarenta dias, eles voltaram de sondar a terra. Ao chegarem, apresentaram-se a Moisés e ...