Ainda há de se ouvir no meio do povo de Deus uma expressão de música que nos comoverá e nos desafiará além das nossas emoções naturais. Esta música não consistirá de belos hinos sobre nossas doutrinas ou idéias. Ao contrario, ela nos elevará e nos colocará na presença do Rei dos reis. Este artigo nasceu da convicção de que temos dado apenas um fraco início na área de música profética. Existe uma esfera musical totalmente nova a ser descoberta.
Antes de falarmos sobre música profética, devemos estabelecer alguns princípios. Profecia tem a ver com comunicação. Ela toma daquilo que está no céu e o traz para a terra. Profecia é Deus expressando o seu coração e a sua carga para o seu povo. Tem a ver com o propósito final de Deus de ver o seu reino estabelecido na terra através do seu povo. Pode ser uma palavra específica a um indivíduo ou grupo, ou pode expressar princípios que Deus quer desenvolver na igreja inteira. Profecia também é Deus tornando sensível a sua presença. O que ele tem a dizer não pode ser analisado e nem dissecado. Profecia comunica o Espírito de Deus e por isso exige uma resposta espiritual e não analítica.
Profecia geralmente vem em forma de palavras. Como pode então ser profética uma seqüência de notas musicais? Seria fácil responder que as palavras de uma profecia podem ser cantadas ou que pode se escrever um cântico que expresse o que Deus quer falar, mas isso seria incompleto. A música é uma forma de expressão que é diferente das palavras, mas ao mesmo tempo as complementa. Transmite o “sentimento” de uma coisa. Cria um espírito no ambiente e comunica uma emoção. Ao mesmo tempo, ela não compete com a palavra oral pois temos percebido que a palavra em si transmite espírito e não teoria.
Os teólogos alemães Karl Barth e Rudolf Bultmann colocavam grande ênfase na palavra falada como a maneira que Deus se. comunica. Preferiam a música de Mozart à de Bach porque podiam simplesmente apreciar Mozart, enquanto Bach procurava “pregar” demais através da sua música. Em contraste com isso, precisamos ver que a música pode oferecer uma plataforma para a palavra oral de Deus e pode fazer parte dessa palavra.
A música pode comunicar o espírito do que Deus está dizendo à igreja utilizando-se das emoções em vez da mente como caminho para o espírito do homem. A carga do coração de Deus não é uma série fria e predeterminada de afirmações divinas. Precisamos reconhecer o papel das emoções para se ouvir a palavra de Deus. Ele é o Todo-poderoso Senhor de toda a criação que tem um glorioso propósito a realizar. É, portanto, totalmente impróprio responder a sua revelação de uma maneira impassível. Precisamos mais e mais ser comovidos pelo que Deus tem para nos dizer. Seria errado se nossa resposta não fosse além das emoções. Entretanto, uma liberação dos nossos sentimentos acompanhando a nossa vontade vai ajudar e não impedir a nos apropriarmos de tudo que Deus tem para nós.
A música tanto pode tocar as nossas emoções como prover um meio para a emoção se expressar. Uma música que estamos ouvindo pode resumir e expressar tudo que nós mesmos estamos sentindo na nossa busca de Deus. Ela pode também transmitir o que Deus está sentindo de uma maneira que não pode ser definida. Assim como Deus não pode ser limitado nem preso, da mesma forma a música não pode ser restrita. Quando o Espírito de Deus está se movendo, uma música profética pode produzir muitos sentimentos e estados de ânimo diferentes no ambiente. Há muitas nuanças diferentes na música quando Deus toma conta dela. A despeito do que dizem os manuais de música, o tom menor nem sempre expressa tristeza!
Um dos papéis mais importantes da música profética é tomar a palavra de Deus e expressá-la de uma forma diferente. Um cântico profético, por exemplo, pode pegar uma mensagem profética de uma hora e expressá-la em cinco minutos. Isso não é mérito ou demérito para nenhuma das formas de ministério; é simplesmente a criatividade de Deus se expressando de diversas maneiras. Uma olhada em Êxodo 15 nos mostrará que no cântico de Miriã foi dito em um versículo o que Moisés levou um capítulo inteiro para dizer. Ela respondeu profeticamente à declaração da vitória de Deus através de Moisés. Ela inspirou outros a expressar em cântico o que ela mesma vira de Deus.
Aqueles que possuem um espírito profético podem assumir um papel especial em relação à música se Deus lhes tiver concedido dons neste sentido. E evidente que alguns dos profetas do Velho Testamento usavam cânticos proféticos como uma das muitas formas em que sua carga era transmitida. Isaías exprimiu sua mensagem profética num cântico sobre a vinha (Is 5:1 ss), e pelo que parece Ezequiel usava cânticos proféticos e música freqüentemente (Ez 33:32). Isso pode incluir tanto músicas preparadas como totalmente espontâneas.
Há ocasiões em que o Espírito Santo concede um cântico ou música ao seu profeta no ambiente de louvor. É comum Deus usar aqueles que têm talento musical para isso, mas sempre haverá exceções quando Deus escolhe revelar seu poder dando um cântico para quem não tem ouvido musical! É mais provável, porém, que Deus irá ampliar sobrenaturalmente os dons musicais que já deu a alguém ao invés de dar um cântico para uma pessoa que basicamente não tem talento musical.
Geralmente a música espontânea funciona a partir de um alicerce de muita preparação. Se quisermos expressar espontaneamente na música o que Deus está sentindo, então precisamos dar atenção ao desenvolvimento de habilidades técnicas. O profeta musical precisa depender de Deus no seu treino musical assim como em outras áreas de sua vida. O treino não anula a espontaneidade, ao contrário, abre possibilidades para maior espontaneidade. Se você pode tocar acordes no violão, então Deus vai usar os seus acordes. Mas se você pode tocar escalas e arpejos além de acordes, então você está oferecendo a Deus uma extensão maior de capacidade musical através da qual ele pode se expressar.
Também precisamos fugir da idéia que quando preparamos algo de antemão, automaticamente deixa de ser profético. Bruce Yocum escreve: “…você não pode compor uma música profética, só pode recebê-la” (PROFECIA, pg 92). Entretanto, isso restringe excessivamente a criatividade de Deus. Deus deseja se envolver tanto na composição de músicas que expressem o seu coração como nas músicas que são totalmente espontâneas. Receber uma palavra de Deus nem sempre é como um lampejo deslumbrante. Freqüentemente vem com o senso que Deus deseja falar alguma coisa, e envolve o profeta numa busca de clareza sobre aquilo que Deus está falando. Em outras palavras, receber uma profecia muitas vezes envolve meditação e diálogo com Deus.
Podemos dizer o mesmo sobre música profética. Muitas vezes pode haver uma percepção que Deus nos quer comunicar algo na música, mas pode levar tempo para chegar. Uma vez gastei mais de duas semanas em comunhão com Deus a respeito de uma determinada carga para compor uma música profética. Em outras ocasiões tenho recebido a música inteira no prazo de uma única noite. Há algumas cargas que carregaremos até mesmo por anos antes de vir a hora certa para liberá-las em música para o povo de Deus. Estejamos abertos para Deus usar diferentes métodos de inspiração em ocasiões diferentes!
Uma das coisas mais importantes que devemos reconhecer é que geralmente profetizamos daquilo que Deus já nos deu e daquilo que Deus já operou nas nossas vidas. Um cântico ou composição musical não é profético se independentemente decidirmos sentar-nos para compor alguma coisa. Como na profecia verbal, assim também na música precisamos esperar em Deus para saber o que ele tem para dizer à igreja. Em última análise é somente isso que garante que a nossa preparação e treinamento técnico não dominarão e deslocarão a realidade de Deus da nossa música.
Não podemos compor música profética se não conhecermos o coração de Deus em relação aos seus propósitos. Se tentarmos meramente escrever músicas cristãs aceitáveis, terão um som de “segunda mão”. As pessoas vão saber que não estamos realmente experimentando o que estamos cantando. Já que a vida inteira do profeta é singularmente ligada com Deus, ele descobrirá que Deus exigirá dele aquilo que expressou na música, assim como ele faz com nossas palavras. Ele pode descobrir que custa caro escrever músicas proféticas. É preciso experimentar alegria para compor músicas alegres, mas como fazer com a tristeza? O profeta precisa entrar na angústia e desapontamento de Deus se ele quiser comunicar essas coisas ao povo de Deus. Semelhantemente, um cântico sobre a experiência de “deserto” vai cumprir-se na vida do profeta um dia. A composição de músicas pode ser perigosa!
Pode-se perceber do que foi dito que não podemos ser ingênuos na nossa aplicação da música. Precisamos reconhecer que três acordes no violão não podem expressar tudo! Precisamos também ver a música profética como uma parte integral do que Deus está fazendo em nossa vida, e não como um mero complemento que forma a parte agradável das nossas reuniões. Mais e mais precisamos ter expectativa de que a música profética será um acontecimento nas nossas vidas e que mudará o nosso rumo, e não apenas será algo para nos abençoar. Muitas pessoas me dizem que minhas músicas as abençoaram. Sinto, porém, que o sinal de que realmente consegui atingi-las será quando alguém chegar para mim enfurecido por causa de algo que expressei na música!
A verdade sobre a nossa situação atual é que tanto em termos de habilidade técnica como em composição (embora talvez não em expressão lírica e poética) o mundo secular é melhor do que nós. Também tem mais dinheiro para empregar na composição de melhores músicas do que temos à disposição na igreja. O objetivo de Deus é inverter essa situação, mas nunca o conseguiremos fazendo de conta que somos melhores do que realmente somos.
Uma das coisas que nos restringem é o nosso conceito musical bitolado. Se quisermos compor música criativa, nova e cheia de vida, que comunica algo de Deus, teremos que ir além da distinção entre música clássica e popular. Deus não tem compromisso com estilo nenhum! Precisamos ampliar o alcance da nossa percepção musical. Por que supomos ingenuamente que a música existe simplesmente para nos agradar? Há ocasiões em que ela pode nos causar dor a fim de ser realmente profética. Sem dúvida podemos tirar proveito se ouvirmos uma ampla variedade da melhor música que está sendo produzida pelo mundo. Como ocorre com a literatura, precisamos selecionar e discernir onde há um espírito nocivo. A medida que ouvimos uma variedade mais ampla, teremos um acervo maior de capacidade musical disponível para Deus usar nos seus propósitos proféticos.
O propósito de termos discursado sobre música profética foi abrir para nós possibilidades novas e empolgantes nessa área. O que realmente importa é que Deus resplandeça através da nossa música. Anelamos pelo dia quando pudermos pegar a música do céu e tocá-la na terra a fim de que a glória que envolve o trono de Deus possa irradiar-se através do seu povo. Precisamos conscientizar-nos das nossas limitações e absolutamente não podemos vender as nossas almas ã música como fazem muitos músicos profissionais. Entretanto, podemos abrir nossos corações a Deus e pedir-lhe para mostrar-nos novas formas de expressão. A palavra de Deus não pode esperar pelo nosso aperfeiçoamento técnico, mas podemos oferecer a capacidade musical que temos e confiar que ele nos dê mais.
Artigo retirado do livreto: Anjos, Músicas, A cura da alma e A libertação da criação.
Editora: Impacto.
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