sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Salmos 77:2

"No dia da minha angústia busco ao Senhor; de noite a minha mão fica estendida e não se cansa; a minha alma recusa ser consolada". (Salmos: 77. 2)
Busquei o Senhor no dia de minha angústia. Neste versículo ele expressa mais distintamente a grave e dura opressão a que a Igreja se sujeitara naquele tempo. Há, contudo, certa dose de ambiguidade nas palavras. O termo hebraico, yad, o qual traduzi por mão, é às vezes tomado metaforicamente por uma ferida ou mágoa, e, portanto, muitos intérpretes trazem à tona este sentido: Minha ferida [ou mágoa] percorreu a noite, e não cessou;' equivale dizer: Minha ferida não foi suficientemente purificada de elementos ulcerosos, ao ponto de sua supuração parar de escorrer. Eu, porém, ao contrário tomo a palavra em seu sentido ordinário, que é mão, porque o verbo niggera, que ele usa aqui significa não só penetrar como faz uma chaga, mas também estender-se ou espalhar-se. Ora, ao dizer que buscava o Senhor no dia de sua angústia, e que suas mãos se lhe estenderam nos momentos noturnos, isso denota que a oração era seu exercício contínuo - que seu coração estava tão solícita e incansavelmente engajado nesse exercício, que ele não podia desistir dele. Na sentença final do versículo, a partícula adversativa, embora, deve suprir a lacuna; e então o significado ficará assim: embora o profeta não encontrasse nenhum consolo e nenhum lenitivo para a amargura de sua tristeza, ele ainda prosseguia com suas mãos estendidas rumo a Deus. ,E assim cabe-nos reagir contra o desespero, para que nossa dor, ainda que nos pareça incurável, não feche nossa boca e nos impeça de derramar nossas orações na presença de Deus.

João Calvino, O livro dos Salmos, volume 3.  

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